Saquê? Kampai!
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Por Marcela Besson
Sagrado. É assim que os japoneses consideram o saquê, uma das poucas
bebidas do mundo que possuem valor tão expressivo para seu povo de
origem. Assim como a cultura que o criou, o saquê - produzido a
partir da fermentação do arroz - é reverenciado no Japão há dois mil
anos, quando ainda era consumido apenas em comemorações religiosas.
A tradição não se perdeu no tempo. Até hoje, em algumas regiões do
país, o saquê é oferecido aos deuses após cada colheita. Mas de onde
vem esse líquido tão precioso para os nipônicos? Por incrível que
pareça, a bebida um dia já foi considerada alimento. Em meados do
século 5 a.C., no período Nara, os produtores não dominavam técnicas
apuradas de fermentação e o saquê era degustado como se fosse uma
porção de mingau.
Mais tarde, na época dos primeiros imperadores do Japão, os
camponeses tinham por hábito mastigar arroz e guardar os restos em
barris, para que fermentassem naturalmente com a saliva. Desses
resíduos cuspidos em grandes tachos surgia um líquido extremamente
forte e amargo. Depois de misturado com água, era então servido nos
rituais. Até o século passado, o saquê ainda era produzido
artesanalmente. O arroz era lavado e depois colocado em grandes
vasos para cozinhar. E após esta etapa de fermentação, a pasta
resultante era ralada e só então, misturada manualmente até chegar
ao produto final.
Os processos de produção do saquê sofreram inúmeras transformações.
Não há mais vestígios da saliva. O que permanece inabalável, no
entanto, é a popularidade da cerimônia envolvida na degustação do
saquê. Bebê-lo é um verdadeiro ritual, seja em festas de Ano Novo,
casamentos, encontros românticos ou em outras ocasiões especiais.
Segundo a tradição, o saquê elimina as preocupações e ajuda a
prolongar a vida.
Considerada a bebida com mais alta porcentagem de álcool entre os
fermentados, o saquê - quando não está diluído - atinge a marca de
20% de teor alcoólico, enquanto a cerveja não passa de 5% e o vinho
de 13%. Para uma degustação de saquês legitimamente japonesa, os
especialistas têm a disposição um vocabulário com mais de 90
palavras usadas na classificação das amostras.
Existem dois tipos de saquê. O kirin é servido gelado
utilizando o massu, aquele recipiente quadrado feito de cedro. A
etiqueta japonesa diz que os bons bebedores devem oferecê-lo à
pessoa que estiver sentada ao lado na mesa. Se a intenção for
suavizar o sabor, os japoneses colocam uma pequena porção de sal na
borda do massu. Para os supersticiosos que desejam sorte, a tradição
manda transbordar um pouco da bebida para fora do massu.
Outro saquê bem popular é o mirin, que deve ser servido
quente. Para isso, basta colocar a garrafa aberta em uma panela de
água fervente e removê-la quando atingir a temperatura de 40ºC.
Depois é só colocar a bebida aquecida em sazakuki - copinhos de
porcelana. Geralmente esses copinhos possuem um pequeno tubo que os
liga ao exterior; o ar penetra no recipiente enquanto se bebe,
produzindo um leve som de apito.
Num encontro informal, o copo de saquê deve sempre ficar cheio até o
final da refeição. A tradição manda fazer um brinde esvaziando o
copinho num só gole em sinal de respeito aos convidados. Sendo
assim, saúde! Em japonês, kampai!
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